INTRODUÇÃO
Tanto os guias europeus quanto os americanos de infarto com elevação do ST (IAMcST) recomendam há vários anos a criação de redes para o tratamento dos pacientes acometidos por esta síndrome coronariana.
De fato, existem bem-sucedidas Iniciativas, como a Mission Life Line, nos EUA e a Stent-Save a Live, na Europa, que foram criadas com esse objetivo.
No entanto, na América Latina estamos muito longe dessa realidade. E é por isso que convocamos referentes no manejo de pacientes com IAMcST de vários países da região para compartilharem conosco qual é a realidade do tratamento desses pacientes em seus países.
No Paraguai, um país com aproximadamente sete milhões de habitantes, existe uma incidência elevada de doença coronariana, tal como ocorre nos outros países da região. No entanto, é importante ressaltar que os dados proporcionados pelo Ministério de Saúde Pública se baseiam em atestados de óbito que nem sempre refletem a causa real da morte, podendo estar sobrestimado o número real de mortes por infarto. Segundo registros de 2016 do já mencionado Ministério, ocorrem 18.000 mortes por ano, das quais 30% estão relacionados com doenças cardiovasculares. Por sua vez, 40% dessas mortes (aproximadamente 2.200) são ocasionadas por infarto. Se considerarmos que a mortalidade do infarto ronda os 12 a 15%, podemos deduzir das cifras apresentadas que o número de infartos com elevação do ST (IAMcST) é de cerca de 15.000 casos anuais.
Existem no país três sistemas de atenção ao paciente: o sistema do seguro social (Instituto de Previdência Social), o que depende do Estado (na área de cardiologia 2 hospitais dependentes do Ministério de Saúde e um da Universidade Nacional de Asunción) e o da medicina privada (planos de saúde e particulares). Tradicionalmente, a alta complexidade estava reservada para os centros que operam na medicina privada com salas de hemodinâmica bem equipadas e com possibilidade de fazer angioplastia primária (ATCp) a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana. Dos centros públicos, o mais antigo é o Hospital do Seguro Social, que conta com a maior casuística do país (1.300 procedimentos e 400 angioplastias anuais), com vários anos oferecendo acesso a ATCp aos assegurados, mas não fora de horários habituais de atendimento (de 7h00 a 19h00), devido à falta de profissionais para cobrir o trabalho do pessoal. Há três anos o Ministério de Saúde Pública e o Hospital de Clínicas foram habilitando salas onde se reproduz o mesmo modelo.
Às dificuldades mencionadas, devemos acrescentar a concentração de salas de cateterismo na Área Metropolitana de Asunción (14 de 17 salas), havendo somente três centros mais em duas cidades do interior, onde os números são realmente escassos e as ATCp anedóticas. Para corrigir a problemática de ter uma medicina que funciona em duas velocidades – uma de alta complexidade acessível a um reduzido número de pessoas no âmbito privado e a outra muito mais lenta e menos inclusiva no âmbito público –, o Conselho de Hemodinâmica da Sociedade Paraguaia de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular estabeleceram objetivos de trabalho para melhorar o tratamento dos pacientes com IAMcST, segundo os guias atuais e que beneficie um maior número de compatriotas, paliando a atual inequidade.
Propôs-se: