O tratamento do infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST (IAMcST) é tempo-dependente e tem impacto negativo no prognóstico do paciente quanto mais se tarde em revascularizar a artéria responsável pelo infarto.
O tempo total de isquemia miocárdica, compreendido desde o início dos sintomas até a abertura da artéria culpada envolve diferentes etapas: tempo do paciente (tempo que o paciente demora em consultar) e o tempo do sistema, que é a resposta do sistema de saúde frente a um paciente que consulta por dor precordial (inclui a atenção dos serviços de emergências e das instituições que tratam esses pacientes).
É fundamento que os centros com capacidade de realizar angioplastia primária (ATCp) estejam preparados para tratar os pacientes com IAMcST dentro dos tempos recomendados pelos guias clínicos e o desenvolvimento de um Programa Porta-Balão é a forma de alcançar esse objetivo.
O tempo porta-balão (TPB) é o tempo transcorrido desde que o paciente chega ao centro assistencial com capacidade para realizar ATCp até que se consegue a abertura da artéria. Dita variável constitui um fator crucial que determina a eficácia do centro e é considerada como um dos principais indicadores de qualidade de atendimento.
Os guias clínicos recomendam que o TPB seja de menos de 60 minutos e para alcançar esse objetivo é necessário contar com um trabalho multidisciplinar e coordenado entre todos os atores que intervêm na atenção dos pacientes com IAMcST: pessoal de admissão de pronto-socorro, médicos de pronto-socorro, unidade coronariana, hemodinamistas, enfermeiros e técnicos.
Primeiro Passo: Estabelecer o objetivo e determinar a métrica do projeto
Como primeiro passo, deve-se determinar qual será o objetivo de nosso programa e de que maneira mediremos o que vamos fazer.
Em tal sentido, os guias internacionais recomendam que o TPB seja de menos de 60 minutos, motivo pelo qual nosso objetivo será alcançar um TPB de menos de 60 minutos em mais de 75% dos pacientes que são admitidos com IAMcST.
Nossa métrica será o TPB, entendendo que esse tempo está conformado por vários segmentos: ingresso do paciente no centro – realização do ECG – ativação da equipe de hemodinâmica – chegada do hemodinamista – entrada em hemodinâmica – passagem de cabos.
Então, é importante que cada um dos horários antes mencionados seja definido corretamente e que todos os atores utilizem a mesma hora. Para isso, a hora de satélite dos telefones celulares é a melhor opção.
Segundo Passo: Etapa Diagnóstica
Uma vez determinado o objetivo do programa e identificada a métrica do projeto, devemos analisar qual é a situação prévia ao início do novo programa.
Para isso, devemos conformar uma equipe de trabalho multidisciplinar, composta por todos os atores envolvidos na atenção do paciente com IAMcST, o que inclui, além do pessoal médico do pronto-socorro, Unidade Coronariana e Hemodinâmica, pessoal administrativo, técnicos e enfermeiros e responsáveis pelo traslado dos pacientes dentro da instituição.
Também é necessário criar uma base de dados onde registrar todos os tempos mencionados previamente e uma ficha que deve ser preenchida por todos os atores que participam da atenção do paciente.
A etapa diagnóstica vai permitir avaliar onde se encontram as maiores demoras e criar estratégias para reduzi-las.
Temos que entender como é o processo desde que o paciente é admitido no Centro Assistencial até a realização da ATCp. Devemos poder analisar: como é o procedimento de admissão de pacientes, se há uma triagem no pronto-socorro para pacientes com dor precordial, qual é o tempo que se tarda em realizar um ECG, quem o realiza, como se ativa o serviço de hemodinâmica, quanto tempo tarda o hemodinamista em chegar ao centro, como é o traslado do paciente à sala de hemodinâmica e quem o faz, etc.
Terceiro Passo: Estratégias para reduzir o TPB
Existem múltiplas estratégias descritas que podem ser implementadas para reduzir o TPB, mas as que têm mais impacto na redução do tempo são (Figura 1):
Figura 1. Estratégias para reduzir o TPB
Original español |
Tradução português |
Programa Puerta-Balón |
Programa Porta-Balão |
Activación precoz del equipo correcto |
Ativação precoce da equipe correta |
· Entrenamiento de admisión · Listado con guardias e celulares · Triage especial para el dolor precordial en curso |
· Treinamento de admissão · Lista com plantões e celulares · Triagem especial para a dor precordial em curso |
Sala lista |
Sala pronta |
· Conocimiento de la sala de HD x enfermeros de la guardia · Apertura precoz de la sala de hemodinamia |
· Conhecimento da sala de HD x enfermeiros do plantão · Abertura precoce da sala de hemodinâmica
|
By pass de guardia |
Saltar o pronto-socorro |
Preactivación |
Pré-ativação |
· Comunicación telefónica SEM – admisión · Pre-llamado del SEM al ICBA |
· Comunicação telefônica SEM – admissão · Pré-chamada do SEM ao ICBA |
Quarto Passo: Educação e Treinamento
A educação e o treinamento de todos os atores que intervêm na atenção dos pacientes com IAMcST é de fundamental importância na hora de colocar em marcha as estratégias que permitirão reduzir o TPB.
Isso pode se realizar através de palestras e reuniões presenciais e on-line para repassar a sistemática de atuação e por meio da organização de simulacros que permitam definir os papéis de cada um e aprender dos erros.
Experiência ICBA.
Desde o ano 2014 começamos a trabalhar na criação de um Programa Porta-Balão no qual a implementação das estratégias anteriormente descritas permitiu reduzir de maneira significativa os tempos. A pré-ativação permitiu o ingresso da equipe de hemodinâmica à sala antes do ingresso do paciente à instituição, reduzindo de maneira significativa o TPB de 75 a 34 minutos (p = 0,01). Figura 2.
Figura 2. Impacto da pré-ativação na redução do TPB.
P-Act |
Pré-ativação |
Sin P-Act |
Sem Pré-ativação |
T. Puerta-dist |
Tempo Porta- |
Juntamente com a estratégia prévia, evitar a passagem pelo pronto-socorro e contar com a possibilidade de ter a sala pronta são as outras duas estratégias que ajudam a reduzir o TPB (Figura 3).
Figura 3. Impacto das estratégias de Saltar o Pronto-socorro e ter Sala Pronta na redução do TPB.
Puenteo Guardia |
Saltar Pronto-socorro |
Sala Lista |
Sala Pronta |
Finalmente, as estratégias incorporadas não só reduzem o TPB mas também têm um impacto positivo na redução do tempo total de isquemia, diminuindo o período desde o primeiro contato médico até a revascularização.
Na atualidade os guias recomendam a criação de redes para o tratamento de pacientes com IAMcST, onde centros de diversos níveis de complexidade estejam conectados por um sistema de ambulância eficiente, que permita a rápida instauração de um tratamento de reperfusão.
Com a simples criação deste tipo de redes, reduzem-se os atrasos no tratamento e aumenta a proporção de pacientes que recebem tratamento de reperfusão.
Para alcançar as metas descritas, é vital começar pela organização interna de nossos centros, com o objetivo de que os mesmos sejam incorporados pelas redes e realizem um trabalho de equipe eficiente.